Pediatra – Doutorado pela UFPE (em curso)
Pesquisadora da Temática sobre violência contra
crianças e adolescentes
A
violência sexual caracteriza-se pelo abuso e pela exploração sexual de crianças
e adolescentes. Não é possível afirmar sua real frequência, mas estima-se que
apenas 20% dos casos de violência sexual sejam identificados em todo o mundo,
porque a revelação por parte das crianças e adolescentes que são vítimas
geralmente não ocorre devido a sentimentos de medo e represálias que vivenciam.
O
abuso sexual ocorre principalmente no próprio domicílio da vítima e, usualmente,
é praticado por pessoa próxima e de confiança. É definido como qualquer forma
de contato e interação sexual entre um adulto e uma criança ou adolescente, em
que o adulto, que possui uma posição de autoridade ou poder, utiliza-se dessa
condição para sua própria estimulação sexual, para estimulação da criança ou
adolescente ou, ainda, de terceiros. Inclui situações com contato físico e sem
contato físico, tais como voyeurismo, pornografia e exibicionismo (exibição dos
órgãos genitais para a criança ou adolescente).
A
exploração sexual comercial relaciona-se não só a prostituição em sentido
estrito, mas também à pornografia, ao tráfico de pessoas para fins sexuais, ao
turismo sexual, entre outras formas de exploração.
Os
efeitos maléficos da violência sexual vêm sendo estudados pela ciência e hoje
já é possível afirmar que esse tipo de violência não afeta apenas a parte
psíquica da vítima, mas todo o seu contexto físico e social que contribui para
o surgimento de doenças a curto e longo prazos. O sofrimento vivenciado pela
vítima funciona como um estresse que intoxica todo o organismo, que é o chamado
estresse tóxico, que poderá danificar desde a genética, até o cérebro e
diversos órgãos da vítima. Os problemas de saúde ocorrem sob a forma de
transtornos respiratórios, alérgicos, cardiovasculares, gastrointestinais,
dores crônicas, problemas ginecológicos e autoimunes. Os transtornos
psiquiátricos incluem desde síndrome do pânico, bem como a depressão e o
suicídio, além do uso de drogas. Gravidez, abortos, prostituição estão entre as
consequências possíveis.
Além
dos efeitos individuais, a violência sexual possui a chamada transmissão
intergeracional, onde os efeitos das modificações genéticas, psíquicas e
sociais tendem a se manifestar nas gerações seguintes, causando transtornos nas
relações humanas no presente e no futuro, ou seja, alterando a ecologia de
todos os seres humanos envolvidos no contexto.
O
dia 18 de maio é o Dia Nacional de
Enfrentamento ao Abuso e à Exploração sexual de Crianças e Adolescentes. É
dia de reflexão e ação sobre o que podemos fazer para tornar nosso Brasil um
lugar livre de violência sexual contra crianças e adolescentes, contribuindo
para um presente e um futuro ecologicamente de paz e saúde para todos.
Especialmente
para o Blog Saúde e Bem Estar desenvolvi
no formato da palavra CUIDAR, algumas recomendações que podem ser úteis para conhecer
melhor como prevenir e como agir contra a violência sexual:
Criança é criança.
O bem mais precioso que a humanidade possui. Deixe sua criança viver a
infância. Não a incentive a ser um adulto em miniatura. Não a exponha a músicas,
danças, roupas, filmes, brincadeiras que estimulem a erotização precoce.
União pela Paz.
Trabalhe pela Paz na sua casa e na sua comunidade. Ensine sua criança a
respeitar os seres vivos e o planeta em que vivemos. Não compre brinquedos,
jogos ou games que estimulem a violência entre as pessoas. Não deixe que sua
criança faça ou sofra bullying;
converse sempre com os professores e coordenadores para o incentivo à cultura
de paz nas escolas. Não permita a existência de nenhum tipo de violência em seu
lar: a violência psicológica entre os pais está muito associada à violência
física e à sexual contra a criança. O consumo de álcool também contribui para a
violência sexual.
Incentivo à Autonomia.
Incentive sua criança a não ter segredos para você, a não falar com estranhos
ou aceitar balas ou presentes em troca de favores; se a criança não quiser
abraçar uma pessoa conhecida sua, não insista. Também é importante orientá-la a
conversar com pessoas conhecidas sem a necessidade de tantos toques ou de
sentar no colo. A criança deverá dormir em sua própria cama e ser orientada a
ajudar nas tarefas de casa. É importante lembrar que podemos partir dessa vida
a qualquer momento e a criança que fica deverá viver com autonomia, com ou sem
os pais presentes.
Diálogo sempre.
Converse sempre com sua criança. Saiba o que ocorreu durante o dia e também
durante à noite. Identifique pessoas que possam estar se aproximando dela com
más intenções. Quem pratica violência sexual é normalmente uma pessoa “acima de
qualquer suspeita”: pode ser um(a) excelente profissional, amigo(a),
solidário(a), praticante de alguma religião, porém pode estar querendo praticar
violência sexual contra sua criança.
Ajuda incondicional.
Se seu filho(a) relatar alguma situação de violência sexual, acredite nele(a).
Ofereça seu apoio incondicional e procure ajuda da Rede de apoio para proteção
de todos os envolvidos na situação. Lembre-se que para sua criança lhe contar a
verdade, ela ultrapassou uma enorme barreira e ameaças. Tenha você tanta
coragem quanto ela para poder ajudá-la incondicionalmente, não importa se quem
praticou a violência for uma pessoa da sua extrema confiança ou estima e que
gosta muito da sua criança, tal como o padrasto, o papai, a madrasta, o(a) titio(a),
o(a) primo(a), o(a) melhor amigo(a) da família etc.
Rede de Apoio.
Esta rede é extensa e atuante. Você nunca estará sozinho(a) nessa difícil
situação. A rede incluirá desde os serviços de saúde, a escola até os órgãos de
proteção (Ministério Público, Juizado Da Infância e da Adolescência, GPCA,
Conselhos Tutelares) e o Disque 100. Em caso de qualquer suspeita, uma das
portas de entrada para a rede de apoio poderá ser a comunicação com o(a)
pediatra da criança ou com professores e coordenadores nas escolas. O Estatuto
da Criança orienta que o agressor se afaste da residência pois não é possível
prevenir que novos atos aconteçam contra a criança se ele permanecer no
domicílio. A família toma novos rumos, necessários ao restabelecimento da paz e
da saúde física e mental de todos os envolvidos. A criança e o adulto cuidador
terão direito a acompanhamento médico, psicológico, de assistência social e
jurídico. O agressor terá a oportunidade de não praticar mais atos ilícitos
contra a criança que estima, iniciará acompanhamento psicológico e terá a ação
da justiça para que a punição seja feita da forma mais justa e necessária.
Para
mais informações sobre como conversar com crianças sobre violência sexual, acesse
o livro Pipo e Fifi de Caroline Arcari https://www.pipoefifi.com.br
Serviços de Saúde de referência para
casos de violência sexual em Recife
Fonte:
Orientações para o atendimento a vítimas de violência –Guia para profissionais
de Saúde, Secretaria Municipal de Saúde do Recife, 2010.
Serviços Judiciais e Policiais da
Rede de Apoio
Fonte:
Orientações para o atendimento a vítimas de violência – Guia para profissionais
de Saúde, Secretaria Municipal de Saúde do Recife, 2010
*Os artigos publicados no Blog Saúde
e Bem Estar são escritos por especialistas convidados pelo domínio notável na
área de saúde. As publicações são de inteira responsabilidade dos autores, assim
como todos os comentários feitos pelos leitores/internautas.
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